Sempre que viajamos, procuramos não perder tempo com algo que não seja a viagem, assim, normalmente saímos do trabalho para as férias e tentamos otimizar nossos primeiros dias de entrada para terras distantes. Nessa nossa viagem a Bolívia, sairíamos de Curitiba às 17h com uma meta de chegar a Corumbá e cruzar a fronteira antes do fechamento da aduana boliviana, que segundo informações de seu site, fecharia as 16h.
Nos últimos dias para a viagem, nos lembramos que lá o fuso é uma hora a menos, e aí chegamos a nossa primeira confusão. Não podíamos perder tempo no caminho, porque tínhamos que estar não as 16h, mas as 15h, já que tínhamos uma hora a menos.
Como ambos dirigem, fazemos um revezamento onde enquanto um dorme, o outro dirige. Paramos para o jantar perto das 20h, escovamos os dentes e usamos o banheiro porque sabíamos que teriam poucos lugares no caminho para isto. Colocamos o GPS e ele informava que a previsão de chegada em Corumbá era 14h25. Tínhamos pouco tempo.
Verifiquei novamente a rota usando o Google Maps, que sempre é mais preciso no tempo de viagem, a previsão de chegada era 12h35, melhor, mas ainda apertado, pois tínhamos uma hora a menos.
Logo após a meia a noite, quando sem perceber mudamos um pouco o trajeto por errar uma saída da rodovia, alongando nossa viagem em 30 minutos, pois estávamos indo por Maringá em vez de Londrina, caiu a ficha.
Eu trabalho com pessoas em diversos fusos, e como a parte do cérebro usada na viagem não é a mesma do trabalho, não havia ligado os pontos. Logo que me dei conta, lembrei que uma hora a menos era na verdade uma hora a mais.
Me lembrei de um clássico livro sobre uma grande viagem, Volta ao mundo em 80 dias, de Julio Verne. Nele, Phileas Fogg aposta que conseguiria dar a volta ao mundo em apenas 80 dias. E como a cada meridiano que ele caminhava, os relógios marcavam 1 hora a mais, em uma volta ao mundo, Phileas Fogg teve 24 destas mudanças de fuso, o que o fez achar que tinha perdido a aposta, por achar que estava atrasado para o cumprimento da aposta.
Acontece, que a cada fuso que Phileas Fogg passava, ele tinha uma hora a menos do dia. E cada uma dessas horas, rendeu ao fim de sua volta ao mundo um dia inteiro. Assim, seus 80 dias foram 79 aos relógios de Londres o que o fez vencedor da aposta.
Voltando a nossa viagem, o que seria um aperto considerável em tempo, acabou se tornando uma hora a mais para chegarmos à fronteira, pois Curitiba, nossa cidade de partida, está no fuso -3, enquanto a Bolívia está no fuso -4. Essa hora a menos, é na verdade uma hora a mais, pois enquanto nossos relógios curitibanos marcam 17h, os bolivianos marcam 16h, nos concedendo uma hora a mais para cruzar a fronteira.